A médica nefrologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP Andrea Pio de Abreu, explica como a hipertensão, muitas vezes assintomática, pode causar danos irreversíveis a órgãos como coração, cérebro e rins — e por que o controle precoce é essencial para preservar a saúde integral
A pressão alta, ou hipertensão arterial, é uma condição crônica que atinge cerca de 1 em cada 4 brasileiros adultos, segundo dados do Ministério da Saúde. Conhecida como um “inimigo silencioso”, ela pode passar despercebida por anos — até que seus efeitos comecem a comprometer órgãos vitais de forma grave e irreversível.
Para a médica Andrea Pio, o grande perigo está justamente na falta de sintomas claros. “A maioria das pessoas só descobre que tem pressão alta depois de um evento como um infarto, um derrame ou alguma manifestação clínica renal tardia, como o edema e outros sintomas inespecificos, tendo em vista que a doença renal crônica pela hipertensão não causa dor. Quando isso acontece, o órgão já foi comprometido”, alerta.
O que a pressão alta faz com o corpo?
A hipertensão é como uma força excessiva empurrando o sangue contra a parede das artérias continuamente, todos os dias. Isso pode danificar as artérias diretamente, e comprometer a irrigação de diversos órgãos. Os mais afetados são:
• Coração: risco aumentado de infarto, insuficiência cardíaca e arritmias.
• Cérebro: maior chance de AVC (derrame) e de declínio cognitivo precoce.
• Olhos: lesões na retina, que podem levar à perda parcial da visão.
• Rins: redução progressiva da função renal, podendo evoluir para doença renal crônica avançada.
“Junto aos outros órgãos, o rim costuma ser comumente afetado, tanto que no Brasil a hipertensão é a maior causa de Doença Renal Crônica, que por sua vez é rreversível ”, afirma Andrea. “Os rins possuem muitas funções, incluindo a de filtração. Conforme a doença renal avança, menos eles conseguirão exercer suas funções.”
Como saber se os rins estão sendo afetados?
O acompanhamento clínico com exames simples — como dosagem de creatinina no sangue, e exame de urina — pode detectar precocemente sinais de comprometimento renal. A creatinina será utilizada no cálculo da Taxa de Filtração Glomerular estimada, e o exame de urina será importante para avaliar a presença de alterações, sobretudo a perda de proteína.
Andrea destaca: “Quando a pressão alta afeta os rins, a pessoa pode não sentir nada nos primeiros estágios da doençarenalcrônica. Mas, sem controle, pode vir a precisar de diálise ou transplante renal no futuro, se chegar ao estágio mais avançado da doença.”
Como prevenir os danos da hipertensão?
O segredo está na prevenção e no acompanhamento contínuo. Andrea Pio sugere algumas medidas fundamentais:
1. Meça sua pressão com regularidade, mesmo sem sintomas, contando com a orientação adequada do médico ou profissional de saúde.
2. Mantenha uma alimentação equilibrada, com menos sal, gordura e ultraprocessados.
3. Pratique atividade física ao menos 150 minutos por semana.
4. Evite cigarro e álcool em excesso, grandes vilões da saúde vascular.
5. Tome corretamente os medicamentos prescritos, sem interrupções.
6. Faça check-up anual para avaliar a função renal,.se você tem hipertensão arterial.
Cuidar da pressão é cuidar da vida.
Para Andrea, o mais importante é desmistificar a ideia de que a hipertensão só afeta pessoas mais velhas ou com sintomas visíveis. “Ela pode atingir jovens, mulheres, homens, pessoas magras ou obesas. A única forma de saber é medindo. E a única forma de proteger os rins, o cérebro, o coração, as artérias e os olhos, é tratando a doença adequadamente.”